Diablo III

A essa altura do campeonato você já sabe que “Diablo III” demorou anos para ser lançado. O jogo começou a ser desenvolvido em 2001, foi anunciado em 2008 e chegou agora em 2012. Com tanto tempo de produção, é natural que muita gente desenvolvesse um pé atrás com o título (dúvida? “Duke Nukem Forever” também demorou 12 anos, e olha o que aconteceu com ele) ou mesmo que “Diablo III”, no fim das contas, jamais iria ser lançado. Agora que estamos com ele em mãos podemos ver que, apesar da demora, a Blizzard soube aproveitar esse tempo, e criou um “Diablo” que continua instigante e deve agradar tanto aos veteranos quanto aos novos integrantes da série. 
“Diablo” para mim sempre foi uma franquia do coração. Joguei o primeiro e o segundo game, e também a versão de PlayStation de “Diablo” (que apesar de todas suas falhas, tinha um modo cooperativo offline divertido). Quando joguei o beta no final do ano passado, fiquei um pouco preocupado com algumas das ideias que a Blizzard estava explorando. O sistema de evolução de personagens foi simplificado: quando seu personagem sobe de nível, seus atributos sobem automaticamente, negligenciando jogadores veteranos da tão querida opção de realocar pontos e customizar seu guerreiro da maneira que bem entendesse.

Acertando as contas

Mas eu estava enganado quanto a isso. Os atributos ainda sobem automaticamente na versão final, não se engane, mas o tempo que se gastava antes, criando diversos personagens até entender qual era a construção perfeita de cada um, não é mais necessário. Os pontos são aplicados da melhor maneira possível entre quatro atributos fundamentais (o Bárbaro é focado em força e vitalidade; o Arcanista tem inteligência como força de reserva fundamental) e o único tempo que você irá gastar é aprendendo a tirar o máximo das habilidades do seu personagem. Essa mentalidade permeia “Diablo III” como um todo. Os jogadores mais “hardcore” ainda terão muito o que sofrer nas mãos dos monstros e dos níveis variados de dificuldade, mas esse tempo será gasto jogando, e não mais calculando o que cada atributo muda em seu personagem. A ideia é entender cada classe de personagem na prática, e não em planilhas.

“Diablo III” introduz cinco classes distintas: BárbaroMongeCaçador de DemôniosFeiticeiro eArcanista. Com poderosas opções de ataques de proximidade e bastante resistência, o Bárbaro é o clássico guerreiro corpo-a-corpo, enfrentando legiões de peito aberto. Excelente para quem quer saber é de enfiar a mão na cara dos monstros e entrar no olho do furacão. O Monge é um lutador ágil de curta distância, mas tem habilidades de suporte que lembram o Paladino de “Diablo II” e é uma excelente opção de suporte. O Caçador de Demônios é uma mistura de Arqueiro e Ladrão, com habilidades de batalha a longa distância e uma série de armadilhas para prender, envenenar e enganar os monstros.

O Feiticeiro – como o Necromancer de “Diablo II” - é o mago das trevas. Sua especialidade são magias que causam status negativos aos adversário, e claro, a capacidade de invocar todo tipo de criaturas para auxiliá-lo. O Arcanista, finalemente, é o mago mais “clássico”, com feitiços de fogo e gelo, mas recebe aqui algumas novidades para manter as coisas interessantes, como um “raio laser”, por exemplo.

Aliás, dá pra notar que a Blizzard aproveitou o beta para balancear melhor os personagens. As classes mais “cerebrais” como o Arcanista e o Caçador de Demônios ainda exigem um pouco de estratégia, mas não são difícieis de serem utilizadas, tendo habilidades bem poderosas desde os primeiros níveis. Outra mudança do “Diablo” das antigas é que as habilidades que você ganha ao subir de nível são recebidas automaticamente. Não existe escolha entre habilidades a cada nível, e apesar de a primeira vista isso também parecer simples demais, na verdade as habilidades acabam chegando na hora certa. Todo o controle em cima de atributos e habilidades é uma maneira – ainda que um tanto relaxada – da Blizzard em dar ao game um ritmo fenomenal. Como os desenvolvedores sabem mais ou menos que habilidades você terá em certa altura do jogo, a equipe foi capaz de criar encontros e picos de dificuldade extremamente satisfatórios.




Quase todos o personagens recebem uma habilidade que é uma espécie de golpe mais poderoso no segundo nível e um golpe de área no terceiro nível. Isso é, novamente, para você perder menos tempo calculando qual habilidade deveria comprar em cada nível, e mais tempo aprendendo a explorar ao máximo as ferramentas de cada personagem.

Cada classe ainda oferece a opção de escolher entre um personagem homem ou mulher, e apesar dos trailers exibirem apenas um sexo por classe, no game cada uma das classes em cada um dos gêneros tem suas cenas próprias de animação na abertura e durante o jogo todo.

Localização completa
Falando nisso, o jogo todo pode ser jogado em português do Brasil, com áudio e legendas e uma dublagem é de alto nível. Grandes nomes como Pietro Mário, Mariana Torres e Carlos Seidl fazem parte da dublagem, e se parece arrogante citar os dubladores pelo nome (eles estão nos créditos), basta dizer o seguinte: a voz do Seu Madruga faz parte de “Diablo III”. Todas as vozes nacionais que fazem parte do jogo tem um belo currículo e você deve ter ouvido cada um deles pelo menos uma vez assistindo televisão. É muito legal ver que a Blizzard fez um lançamento mundial simultâneo de alto calibre, permitindo que tenhamos  o jogo todo em português no mesmo dia em que os norte-americanos recebem a versão deles.
Apesar de contar com uma tradução confusa aqui e ali, a tradução do roteiro do jogo foi feito de maneira bem competente e completa. Jogadores sem muito conhecimento do inglês poderão ter a experiência completa de “Diablo III” em português, uma vez que todas as falas e até documentos escondidos pelo jogo estão na nossa língua (os mais preguiçosos ficarão felizes em saber que não há quase nada no jogo que não seja dublado; não é preciso ler muita coisa). Alías, a história tem um destaque muito maior do que nas outras edições da franquia. “Diablo" sempre teve uma trama interessante, mas nunca fez questão de explorar os personagens e suas motivações. Agora, desde a primeira cena, há um motivo para cada calabouço explorado, e um enredo para cada personagem, jogável ou não. Não vou dar spoilers, mas haver spoilers já é um sinal de que a história tem alguma profundidade. “Diablo III" dá motivos para toda a matança que os personagens realizam, e se você quiser, pode pular tudo isso e ir direto para a ação.

A engine gráfica do game traz visuais excelentes, com um foco em manter o jogo rodando em 60 frames por segundo, mesmo com uma montanha de monstros, magias e personagens na tela. As texturas podem não estar no nível de um “Battlefield 3”, mas a atenção aos pequenos detalhes sem dúvida compete com muitos jogos de maior calibre visual: os cenários são povoados por pássaros e morcegos que voam em disparada quando você se aproxima, um sistema de física (trazido de “StarCraft II”) garante momentos de ação instigantes e pequenos toques como zumbis devorando cadáveres e magos adversários realizando conjurações – somado ao caráter naturalmente aleatório do jogo – criam um cenário anos-luz mais vivo que os originais. 
O destruidor de namoros

A jogabilidade de “Diablo” continua sendo basicamente a mesma: matar ondas de inimigos, explorar calabouços em busca de tesouros e ganhar níveis e habilidades no caminho. O controle continua explorando o teclado e o mouse, e as inovações nesse campo apenas melhoraram o que já era bom. Não há mais necessidade de gastar todas as teclas numéricas com poções - as beberagens de cura são automaticamente mapeadas no botão Q. As teclas 1,2,3 e 4 servem como atalhos para as habilidades. Os dois botões do mouse também servem ao mesmo fim. As velhas poções de mana foram riscadas a favor de sistemas de magia recarregáveis. Cada classe tem seu tipo de medidor e cada uma delas se recupera ou com o tempo, ou com as próprias ações do personagem.

Com esse sistema, o jogo se torna ágil independente da classe do seu personagem. Monges farão combos dignos de jogos de luta, voando pela tela, enquanto personagens como o Arcanista conseguem invocar avalanches de feitiços, destruindo legiões de monstros com facilidade.

Além das habilidades comuns ainda há o sistema de runas. Diferente das de “Diablo II”, as runas de “Diablo III” são habilidades passivas que podem ser ligadas e desligadas. Cada uma delas afeta suas habilidades de maneira diferente, transformando-as em habilidades quase novas. É aqui que os mais viciados vão se esbaldar, encontrando usos novos para cada habilidade e diferenciando bastante seus personagens, mesmo dentro de uma mesma classe.

Para “novatos” e “hardcores”
O que a primeira vista parece simplicidade acaba se demonstrando como engenhosidade por parte da Blizzard. Quem não conhece a série, ou não quer pensar tanto, pode jogar sem problemas, subindo de nível e ganhando habilidades sem muita complicação. Quem é mais “hardcore” tem diversas opções para ver os números de cada ataque, e pode explorar a profundidade do sistema de runas, que aliado ao sistema de criação de itens e gemas, dá toda customização que um veterano possa querer (e vai precisar, se quiser jogar em todas as dificuldades).

Outra bela adição é a possibilidade de destruir itens que você não quer, transformando-os em matéria prima para novos itens. Segundo a Blizzard isso serve para gastar menos tempo tendo que voltar na cidade para esvaziar seu inventário, e de fato, o sistema facilita bastante sua jornada. Além de tudo isso, você ainda tem a chance de ter seguidores, personagens controlados pelo computador, que podem te ajudar nas partidas de um só jogador, principalmente nas dificuldades mais elevadas.







O modo hardcore também retorna. Nele, os personagens que morrerem não podem ser ressucitados. Nunca mais. Os mais dedicados não podem reclamar do jogo ser fácil demais com uma opção dessas. Segundo a própria Blizzard, o modo é indicado para quem quer sentir “uma emoção maior” jogando. Fora do modo hardcore, ao morrer você retorna ao último checkpoint, com seus equipamentos perdendo um pouco da durabilidade. O jogo salva seu progresso automaticamente em pontos chave, e seu personagem ao sair do jogo, ou seja, ao se desconectar você salvará automaticamente seus níveis e itens, mas ao voltar a jogar estará localizado no último checkpoint (com todos os itens e níveis).

O sistema foi desenhado para funcionar com a ideia de estar sempre conectado a rede battle.net ao jogar “Diablo III”. Esse talvez seja o único ponto no qual o game poderia ser criticado. Os primeiros dias desde o lançamento foram um pouco caóticos, mas isso já foi resolvido, e já era esperado de um game tão antecipado pelos gamers (“Diablo III” bateu o recorde de pré-vendas do Amazon.com, para se ter idéia). Porém, para jogar “Diablo III” você terá de estar conectado a internet, todas as vezes em que for jogar, o tempo todo. Em “Diablo II” você tinha a opção de jogar online ou offline, sendo que não podia usar o mesmo personagem nos dois modos. Essa era a maneira da Blizzard de evitar que os jogadores usassem personagens ou itens modificados em sua rede. Com a adição da casa de leilão em “Diablo III”, aonde você pode comprar e vender itens com dinheiro real, a Blizzard quis evitar complicações (e tem razão nesse ponto) e para isso desenvolveu um sistema que depende da internet. É totalmente compreensível, mas é difícil pensar que você comprou o jogo mas não pode jogá-lo caso esteja sem internet. Poderia haver uma opção para se jogar offline, e não duvido que alguma seja criada com o tempo, uma vez que essa é basicamente a única reclamação real que os jogadores fizeram em relação ao game.








Apesar do pequeno empecilho, o modo online funciona perfeitamente. A casa de leilão está para ser aberta, mas o multiplayer já está funcionando e tem um sistema bastante funcional. O jogo tem uma janela para você ver e conversar com seus amigos em tempo real, funcionando como uma espécie de “Messenger” dentro de “Diablo III”, e utilizando o sistema de Real ID você pode conversar com seus amigos que estejam jogando qualquer jogo da Blizzard enquanto você está no “Diablo III”. O jogo ainda oferece a opção de te perguntar toda vez que alguém quiser entrar em seu jogo. Ou seja, você não é obrigado a jogar com ninguém, caso não queira.

“Diablo III” conseguiu. Apesar da espera e das mudanças, o título alcançou tudo que era esperado dele e ainda trouxe inovações extremamente funcionais. Quem nunca jogou pode entrar no game e entender tudo rapidamente, e não terá problemas para se divertir. Mesmo os fãs mais “tradicionais” (como eu) podem estranhar as mudanças a primeira vista mas depois de meia hora de jogo já estarão gratos pelas funcionalidades que a Blizzard adicionou. “Diablo III” não é “World of Warcraft” e isso fica bem claro. Cada game tem seu público e funciona por ser o que é. A Blizzard está de parabéns por se manter fiel ao seu público e entregar um produto tão completo, satisfazendo tanto novatos quanto veteranos. Ou seja, tudo que você leu por aí é verdade. Quando você começar a jogar “Diablo III” vai ser difícil parar.
Plataformas: PC
Produção: Blizzard Entertainment
Desenvolvimento: Blizzard Entertainment
Gráficos: 9
Sons: 10
Replay: 10
Jogabilidade: 10
Diversão: 10

NOTA FINAL: 9,5